Controle integrado de Amblyomma sculptum em zonas rurais

Abstract

Amblyomma sculptum, conhecido como carrapato-estrela no Brasil em sua fase adulta, pertence ao complexo A. cajennense, sendo capaz de parasitar diversos hospedeiros inclusive o homem. Esta espécie apresenta grande importância na saúde pública e veterinária pela capacidade de transmitir uma variedade de patógenos aos seus hospedeiros, principalmente Rickettsia rickettsii, agente causador da Febre Maculosa Brasileira. O presente trabalho teve como objetivos estabelecer um sistema de controle integrado do carrapato A. sculptum na Fazenda da Ponte, no município de Itu – SP, e desenvolver testes de campo com os fungos entomopatogênicos Metarhizium anisopliae (isolado IBCB 425) e Beauveria bassiana (isolado IBCB 66) contra carrapatos do gênero Amblyomma. Os testes de campo com fungos foram realizados na Fazenda Mato Dentro do CAPSA/ IB, Campinas - SP; e no Campus “Fernando Costa” da Universidade de São Paulo, Pirassununga - SP. Adotou-se um sistema de controle integrado dos carrapatos na Fazenda da Ponte, através do manejo dos animais, gramados e pasto. Foram avaliados seis locais mensalmente quanto à infestação de carrapatos no período de junho de 2015 a julho de 2017. Devido ao manejo adotado, houve redução de infestação do carrapato A. sculptum. No experimento realizado na Fazenda Mato Dentro foram demarcadas dois conjuntos de parcelas de 6m por 6m e os fungos M. anisopliae e B. bassiana foram aplicados nas doses de 5×1011, 5×1012 e 5×1013 conídios/ha, enquanto que as parcelas testemunhas receberam apenas água. Adicionalmente, três marcadores contendo 10 ninfas e outros três com 10 adultos foram postos em cada parcela. Estes marcadores foram recuperados no primeiro dia após tratamento e os demais a cada semana. Armadilhas de dióxido de carbono foram lançadas e a mortalidade dos indivíduos capturados foi avaliada nos dias 1, 3 e 10. A mortalidade foi significativa para todas as doses testadas quando comparadas ao controle. A CL50 para o fungo B. bassiana foi de 8,19×1012 conídios/ha para adultos e 1,69×1012 conídios/ha para ninfas, enquanto que para o fungo M. anisopliae a CL50 foi de 5,93×1012 conídios/ha para adultos e 3,82×1012 conídios/ha para ninfas. A dosagem de 5×1013 conídios/ha promoveu a maior mortalidade dos carrapatos na avaliação do décimo dia. Com relação aos indivíduos capturados nas parcelas tratadas com B. bassiana, foram obtidos percentuais de mortalidade de 92,9% para adultos e 96% para ninfas. Para M. anisopliae, a mortalidade foi de 89,2% para adultos e 80% para ninfas. Os marcadores se revelaram um bom modelo para avaliação da eficácia, obtendo-se mortalidade acima de 96,3% para adultos e 100% para ninfas para ambos os fungos. Um segundo estudo foi realizado na Fazenda Mato Dentro de março de 2017 a março de 2018, utilizando a dosagem de 5×1013 conídios/ha para o fungo B. bassiana contra A. sculptum. Na área de experimento, foram demarcadas duas parcelas de 144 m2. A mortalidade foi avaliada de acordo com o experimento anterior. O décimo dia após a captura foi o melhor dia para avaliação de mortalidade. O pico de mortalidade ocorreu ao redor de 30 dias decorridos da aplicação do fungo B. bassiana. A dosagem de 5×1013 conídios/ha do fungo B. bassiana foi efetiva contra A. sculptum, controlando todos os estágios de desenvolvimento do parasito no campo, com percentuais de mortalidade acima de 70% nos períodos de chuva. B. bassiana e M. anisopliae foram utilizados num terceiro teste realizado no Campus “Fernando Costa”, de novembro de 2017 a novembro de 2018. Ambos os fungos foram aplicados em piquetes de 1,0 ha na concentração de 2×1013 conídios/ha, enquanto o controle foi pulverizado com o volume correspondente de água. Armadilhas de dióxido de carbono foram lançadas numa base mensal e a mortalidade foi verificada de acordo com a metodologia prévia. A mortalidade para B. bassiana foi de, 91,7%, 56,9% e 63,0% para carrapatos adultos, ninfas e larvas, respectivamente; enquanto que para M. anisopliae foi de 100%, 56,9% e 100% para carrapatos adultos, ninfas e larvas, respectivamente. Neste teste os fungos foram suspendidos em água com o auxílio de um emulsificante alimentício. Esta formulação revelou-se prática e efetiva para aplicação no campo para ambos os fungos. Ambos os isolados dos fungos B. bassiana e M. anisopliae demonstraram ter potencial entomopatogênico e foram eficazes para utilização a campo no controle de A. sculptum.