Estudo molecular do ZIKV, BVDV e BTV em ruminantes e sua interação com dípteros dos gêneros Aedes e Culicoides

Abstract

O vírus Zika (ZIKV) foi identificado pela primeira vez no Brasil em 2015, tornando-se um problema de saúde global. Apesar do ZIKV ser de origem zoonótica, faltam informações sobre a transmissão, ou mesmo a exposição de vertebrados não humanos e mosquitos ao ZIKV. Sintomas semelhantes aos que o ZIKV causa em humanos, como perda embrionária e malformação fetal, são encontrados em bovinos infectados por outros vírus como o vírus da diarreia viral bovina (BVDV) que pertencente à mesma família do ZIKV, e pelo vírus da Língua Azul (BTV), da família Reoviridae, do qual é transmitido por mosquitos do gênero Culicoides. Ambos os vírus são responsáveis por perdas econômicas em rebanhos bovinos em todo o mundo. Apesar do BVDV e BTV não serem zoonoses, devem ser estudados, pois assim como ocorreu com o ZIKV, podem sofrer mutações ou modificações para se adaptarem ao hospedeiro humano. Nesse contexto, a fim de identificar potenciais espécies participantes no ciclo de manutenção do ZIKV no país, e sua possível reação cruzada com BTV e BVDV, 4.326 amostras de bovinos, ovinos, cervídeos e caprinos, provenientes dos cinco estados do Brasil, foram submetidas a técnica de RT-qPCR. Para o estudo entomológico dos gêneros de mosquitos Aedes e Culicoides, coletas foram realizadas nos municípios de São Pedro, Andradina, Caraguatatuba, Jaboticabal e Presidente Prudente do Estado de São Paulo. Três amostras de cervídeos foram positivas para o ZIKV, os animais eram das espécies Mazama nana e Blastocerus dichotomus oriundas de Jaboticabal/SP. 244 amostras de bovinos foram positivas para BTV e sete para BVDV, sendo cinco de fetos bovinos abortados. Nas coletas realizadas identificou-se apenas mosquitos do gênero Culicoides, sendo as espécies C. pifanoi, C. glabellus e C. diffusus com o primeiro relato no Estado de São Paulo. A confirmação de cervídeos positivos sugere que esses vertebrados foram expostos ao ZIKV e por isso devem ser motivo de atenção, pois, podem servir como reservatórios de amplificação de vírus para bovino, outras espécies selvagens e seres humanos.